Danilo Forlini
A dissertação de mestrado de Danilo Forlini de 2014 é resultado de uma extensa pesquisa sobre obras de Educação Política em nossa literatura e de dados coletados a partir de conversas com três grupos de alunos do ensino médio sobre educação, democracia e política. O autor aponta a falta de trabalhos acadêmicos sobre educação política, desencadeando a mesma definição para as mais diversas categorias como “educação cívica” e “educação cidadã”. Questiona se é possível que os valores democráticos sejam vivenciados pelos cidadãos quando a maioria não entende o funcionamento da democracia e da república.
A partir daí são discutidas iniciativas, como o parlamento jovem; as iniciativas de responsabilidade social promovidas pelas empresas; e os projetos desenvolvidos pelas organizações do terceiro setor, além do papel das redes sociais para a disseminação dessa educação. É realizado um recorte histórico sobre a disciplina, no qual se nota a “Instrução Moral e Cívica” presente já em 1925, a “Educação Moral e Cívica” na reforma educacional de 1942 e em 1969, utilizada como propaganda ideológica da ditadura militar. Com os estudantes secundaristas, o autor parte das hipóteses de defasagem atual nos conteúdos e práticas da educação política e da importância de contribuição para as reflexões de tais processos educacionais. As discussões realizadas pelos alunos, mesmo sem saberem, passeiam por temas clássicos da ciência política e pedagogia. O sentido da escola e do ensino médio para além do vestibular e o que ela pode entregar para um crescimento pessoal e social futuro dos alunos; o papel do professor como agente condutor das pautas levadas para dentro da sala de aula; o desinteresse dos jovens em assuntos distantes de suas realidades; o poder da escola como principal agente de socialização desses jovens. O sentido da política foi trabalhado em assuntos como a apatia política, ou seja, a falta de uma cultura participativa em nossa democracia. Falhas foram identificadas nas atividades políticas demonstrando o conhecimento político entre os alunos e sendo necessária a Educação Política para quebrar o senso comum que assombra temas importantes.
Nessa etapa da pesquisa, Forlini (2015) analisa o comportamento de 3 grupos focais formados por 28 alunos e alunas. O autor buscou identificar como esses jovens percebiam os temas de Escola e Política. Para impulsionar o debate sobre a escola foi perguntado para os grupos “para que serve a escola?” e “por que você vem a escola?”. Para grande parte das alunas (18 de 28) a escola é a instituição responsável por garantir um futuro melhor para os alunos que fazem parte dela. Isso ocorreria porque a escola é baseada em estudos e conhecimento, ferramentas necessárias para alcançar o futuro que os jovens escolheram seguir. Além disso, a escola aparece também como local de socialização, onde os alunos criam relações e tem o primeiro contato com diversas experiências sociais.
Ao mesmo tempo também foi pontuado que a obrigatoriedade de frequentar a escola pode desmotivar algumas pessoas, fazendo com que a maioria das alunas não sejam muito interessadas nas atividades. As alunas também questionaram se a escola serviria como forma de podar a criatividade dos jovens para que não questionem o governo futuro. Para uma das alunas “a escola deveria ter uma função mais ampla, e formar o cidadão em diferentes áreas, mas, segundo a estudante, a direção não se importa com isso”. Assim, a função da escola apresenta esses dois eixos distintos e simultâneos. No referente a política as perguntas foram “O que vem à mente quando dizemos a palavra política?”, “Pra que serve a política?”, “De que forma nós participamos da política?” e “Escola tem alguma coisa a ver com política?”. Nessa parte, enquanto a imagem relacionada os políticos e cargos públicos foi predominantemente negativa, também surgiu a ideia de politizar as ações do dia a dia e não só dentro das instituições de representação: “Tudo é política”, “Engloba tudo” “Convivência é política” “Histórias e trajetórias” e “Mudança”. Um consenso foi a falha na vivência política por parte dos cidadãos que encontram dificuldades em praticar a tolerância e compreensão de opiniões divergentes e não buscam se informar sobre os processos do sistema político tradicional.