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Diário de Classe da Pandemia - Dia 7

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​Flávia tem 25 anos, é formada em História e professora de educação infantil bilíngue. Ela conta que essa atuação profissional era inicialmente inimaginável para ela, mas que o mercado de trabalho a levou até ele. Ela acabou gostando da área e hoje cursa Pedagogia.

Ela já deu aulas para pessoas de todas as idades e gostou de todas essas diferentes experiências, mas conta que trabalhar com crianças pequenas (de 3 a 5 anos) é um desafio muito grande. “Acho que ao longo da vida esquecemos como nos comunicar com crianças. Elas, por sua vez, estão descobrindo o mundo e tem grande capacidade de aprendizado, inclusive de uma língua estrangeira. As escolas privadas exploram isso, introduzindo as aulas bilíngues na educação infantil e fundamental”, conta a professora.

Para ela, a educação na pandemia tem sido uma tortura. “Pais querem cancelar o bilíngue, pois não é obrigatório no currículo nacional. As escolas não querem ceder descontos ou suspender por um tempo. Resultado: aulas online gravadas e ao vivo para crianças de 3, 4 e 5 anos”, explica. Flávia relembra que nessa idade, é fundamental a experiência sensorial, a linguagem corporal, o contato e a socialização, dimensões que estão sendo ignoradas através da tela de computador.

“Me sinto um lixo todos os dias”, desabafa a professora. Seus alunos ficam muito agitados e impacientes nas aulas online e choram na frente do computador. Mesmo nesse cenário, a mentalidade empresarial das escolas privadas e dos pais não cede. Flávia não quer perder o emprego, então também não cede. Ela relata que as crianças, que nesse momento precisam mais de apoio emocional do que conteúdo, sofrem todos os dias sem entender essas dinâmicas complexas do mundo adulto. A relação de amor, carinho e confiança entre professores e alunos enfraquece. A educação morre um pouquinho.

As consequências ainda estão por vir, mas a professora Flávia segue vivendo um dia de cada vez. A esperança é de que pelo menos algo de bom possa ser apreendido pelas crianças e de que esses processos educativos, mesmo fragilizados como estão, resultem em algo de positivo. Ela não deixa de sentir medo, insegurança e impotência diante da pandemia. Mas persiste.

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